Contagem de Ciclistas 2019 aponta queda no número geral de ciclistas, mas há crescimento no percentual de mulheres pedalando na cidade
A BH em Ciclo, em parceria com o Movimento Nossa BH, realizou, pelo quarto ano consecutivo, a Contagem de Ciclistas, um instrumento importante no planejamento das políticas públicas para o fomento do uso da bicicleta como modo de transporte. Com ela, é possível gerar dados para cobrar ações que atendam mais adequadamente às demandas de quem usa a bicicleta como meio de transporte. As nove contagens, uma por regional, foram realizadas entre setembro e outubro, em dias úteis, de terça a quinta feira, das 7h às 19h.
O primeiro resultado não é motivo para comemorar. 3.401 ciclistas foram vistos nas ruas de Belo Horizonte em 2019. O número é 11,39% menor do que o registrado em 2018.
Por que será? Pouco ou quase nada foi feito em termos de política pública para estimular o uso da bicicleta como modo de transporte em BH. A malha cicloviária não só é tímida, como está se deteriorando com a falta de manutenção adequada e regular, de acordo com o IdeCiclo-BH; o PlanBici segue sendo ignorado pela BHTrans e pela Prefeitura de Belo Horizonte; nada tem sido feito nestes últimos sete anos para incentivar a intermodalidade, pois são os poucos paraciclos nas estações de transporte coletivo e normalmente são instalados em locais sem segurança, sem falar na limitação dos horários em que é permitido entrar nos ônibus e metrô com a bicicleta.
Este cenário no campo das políticas públicas e das ruas desestimula o uso da bicicleta como modo de transporte e contribuiu em boa medida para a queda de 11,39% no número de ciclistas detectado este ano.
Mas nem tudo são lágrimas! A divisão de gênero no número de ciclistas este ano trouxe uma ótima surpresa: em 2019 as mulheres representaram 9,59% de todos os deslocamentos feitos em BH. Isso significa que o número de mulheres pedalando subiu 12% em um ano!
Apesar dos desestímulos causados pelos motivos que mencionamos acima e pela violência, expressa não só pelo assédio e importunação sexual, a disposição em se locomover sobre duas rodas foi maior e só cresceu.
Afinal, em 2010 as mulheres representavam, num geral, 2,34% do total de ciclistas; em 2016 foram de 6,9%; em 2017 foram 7,9% e em 2018 foram de 7,89%. Se a tendência permanecer, em 2020 serão ainda mais!
Outro dado relevante é o percentual de ciclistas a trabalho. O número mais que dobrou, crescendo de 0,8% em 2018 para 1,9% em 2019, o que corrobora a presença dos ciclo-entregadores nas ruas.
Quando falamos dos locais, a Avenida Bernardo Monteiro foi o único ponto contado em que não foi identificada redução no número de ciclistas. Houve, na verdade, um aumento de 17,79%. Por outro lado, a Avenida Álvaro Camargos foi o ponto com a maior redução do número de ciclistas: 34,40%.
Os dados do resultado da Contagem de Ciclistas 2019 são abertos e podem ser encontrados aqui.
Para cumprirmos a meta de 2% de deslocamentos feitos por bicicletas em Belo Horizonte, prevista pelo PlanBici-BH e pelo PlanMob-BH para 2020, e, mais importante do que isso, para garantirmos que cada pessoa na cidade que optou pelo deslocamento de bicicleta tenha o direito de fazê-lo em segurança, é preciso que a BHTrans saia da inércia quando o assunto é mobilidade por bicicleta, e se movimente para colocar em execução, da forma como foi planejado, o plano elaborado com intensa participação da sociedade civil e aprovado pelo prefeito Alexandre Kalil em 18 de julho de 2017.
Texto e imagem: BH em Ciclo